domingo, 31 de maio de 2015

O que é ser família? O que é ter família?

Para você, leitor, eu não sei, mas para mim é fazer parte de um grupo de pessoas que buscam o crescimento mútuo, em torno de um amor inabalável, que a tudo perdoa, que tudo suporta e que sempre prevalece.
Tive a sorte de fazer parte de um grupo familiar, cujas prioridades sempre estiveram voltadas para o crescimento espiritual e mental, e que, por isso, nunca medimos esforços quando algum de nós necessita de algo, seja material, mental ou espiritual.
Convivi mais com meus avós maternos, verdadeiros exemplos de dignidade, honra, honestidade, lealdade, cujos princípios souberam tão bem passar para os seus cinco filhos e netos. Valores que minha mãe passou para mim e meus irmãos e vem passando cotidianamente para os seus netos: os meus filhos e os meus sobrinhos.
Aprendi com eles: avós e pais a buscar sempre ser uma boa mãe e aprendi com os meus tios e com as minhas tias a ser uma tia legal. Busco sempre fazer para os meus sobrinhos aquilo que meus tios e tias fizeram para mim e que me deixou feliz. Sem esquecer de todos os ensinamentos que eles me transmitiram a vida inteira.
Dos meus tios e tias que moram distante, guardo boas lembranças, alguns ensinamentos e fotos de férias e de reencontros maravilhosos. Do meu tio, que sempre morou na mesma cidade que eu, guardo além dos ensinamentos e das fotos, as lembranças mais fortes de todos os bons momentos que partilhamos juntos.
Daí a certeza que meu tio José Francisco - cujo apelido, dado por mim quando estava aprendendo a falar: Teté, foi adotado não apenas pelos meus irmãos, mas também por outras pessoas - é muito mais do que um tio para mim e para os meus irmãos, pois o seu amor e dedicação pela minha mãe, por mim e pelos meus irmãos foi sempre algo constante e presente em nossas vidas.
Quis a vida que ele não gerasse filhos seus, talvez por isso nós o tenhamos adotado como tio/pai, talvez por isso ele tenha se tornado tão presente em nossas vidas e nas vidas de nossos filhos.
Teté, ao longo da sua vida, soube ser altruísta e generoso não apenas com os familiares, mas com todas as pessoas da comunidade rural na qual viveu por muitos anos, mesmo não sendo um homem rico, sempre se dispôs a ajudar a todos que o procuravam em busca de auxílio. O que lhe rendeu muitos e bons amigos ao longo de toda a sua vida.
Dono de uma fé tão grande quanto a sua teimosia, Teté é um dos homens mais rígidos e honestos que eu conheço, difícil de mudar de ideia tanto quanto de aceitar qualquer coisa que considerar injusta ou que vá de encontro aos seus princípios.
Após completar 78 anos, em 08 de abril deste ano, sofreu mais um infarto, quando já estava em um processo de tratamento cardíaco e de definição se poderia ou não ser operado. Movido pela sua fé inabalável, contrariando todas as orientações dos médicos, decidiu que queria ser operado e correr todos os riscos em busca de uma cura, pois não saberia viver a espera de um próximo infarto.
Fiquei junto com ele nos dois hospitais, nos quais foi internado neste período pré-operatório, durante 10 dias, nos quais conversamos muito sobre fatos e situações que eu desconhecia da sua vida e da nossa família; fizemos planos para quando ele retornasse para casa e rezamos juntos, várias vezes; ele, com fé; eu, com medo, muito medo. 
Lembro-me com exatidão do seu sorriso, do calor do seu abraço e das suas palavras quando nos despedimos, lá no hospital, pois eu voltaria pra casa e minha irmã ficaria com ele esperando o dia da cirurgia. Foi um momento muito difícil para mim, pois poderia ser aquela a última vez em que nós nos veríamos e tive que disfarçar e ser forte por ele, cujo senso de humor não o abandonava um só instante, nem neste momento triste.
Sua cirurgia foi um sucesso, surpreendendo os médicos e contrariando os seus prognósticos, entretanto, ainda na UTI, no pós operatório, ele contraiu uma bactéria, que vem lhe tirando todas as chances de sobrevivência e destruindo todas as nossas esperanças. Um momento muito difícil para mim e para a minha família, que já dura quase 40 dias, pois suportar a barra de ver o sofrimento prolongado de alguém que você ama tanto não é fácil, mas temos uns aos outros ainda, nos amamos e acreditamos que Deus tem um propósito para cada um de nós. Tudo a seu tempo.
Quanto ao hospital IMIP e aos médicos encarregados dele, fica um questionamento: o que vale mais para vocês: a divulgação na mídia da quantidade de cirurgias que são feitas, inclusive de transplantes de corações e expor depois estes pacientes no pós operatório a estas bactérias fatais? Ou buscar soluções para o extermínio e a limpeza das bactérias destas UTIs e dos blocos cirúrgicos deste hospital para que posteriormente haja de fato sucesso em todos os procedimentos cirúrgicos efetuados? 
Se para vocês, o meu tio faz parte de uma grande estatística de vítimas de uma bactéria, cuja força é maior que a de vocês, para nós O MEU TIO TEM UMA FAMÍLIA QUE O AMA MUITO E É UMA VIDA QUE  ESTÁ INDO EMBORA POR CONTA DA INDIFERENÇA DE VOCÊS.