domingo, 30 de março de 2014

As aulas das Bruxas, de Ana Carolina Ramalho Reis e Marta Cristina Bezerra Santos

No ano em que "atinjo a maioridade" como funcionária pública, 21 anos que fui admitida na rede estadual como professora da EJRC, encontro na biblioteca do Velho João o último dos livrinhos que fiz naquele ano com a 6ª série de 1993, minha "turma da pesada", que quase me fez desistir de tudo, pois eles eram ágeis demais, falantes demais, indisciplinados demais, inteligentes demais, "danados" demais, para uma jovem sonhadora e inexperiente em sala de aula. 
Sobrevivi naquele ano a "duras penas", tinha insônia nas noites que antecediam os dias de aulas nesta turma e calafrios antes de entrar na sala; usei todas as formas e criatividades para tentar fazê-los se "aquietarem" um pouco: "campanha do silêncio", "campanha da arborização da escola", teatrinhos, visitas à biblioteca, criações de livros infantis em dupla, com direito a festinha de lançamento e tudo. "Dei os meus pulinhos" e sobrevivi sem muitos traumas.
Pois bem, semana passada, ao procurar um livro na biblioteca, eis que eu encontro um dos exemplares destes livrinhos. Voltei no tempo, como em flashes de novelas e filmes e me vi novamente às voltas com aquelas crianças da minha turma mais temida, a 6ª série. E me vi a refletir sobre todas as mudanças que ocorreram nesses 21 anos que passaram: tanto eu quanto as autoras deste livro tornamo-nos mães, e tias, ainda não avós, por isso senti que deveria "pegá-lo" para devolver às autoras para que elas possam lê-lo para seus filhos e sobrinhos e também terem a chance de fazerem esta "viagem no tempo".
Era um tempo bom, sem muitos recursos na EJRC, mas com alunos que nos instigavam a buscar novas alternativas e conhecimentos para "preencher" aquela sede de conhecimento que eles tinham. Eram alunos mais motivados e mais motivadores. Mudaram eles ou eu? 
Algo a se pensar, pois prefiro mil vezes ter turmas feito aquela 6ª série de 1993, que me amedrontava pela sua sede de conhecimento que os fazia não parar quietos, a ter turmas completas de alunos indiferentes como tenho atualmente.
Talvez ao encontrar este livrinho, cujo título vem bem a calhar: "As Aulas das Bruxas", eu consiga refletir e reformular a minha prática em sala de aula buscando tirar a maioria dos meus alunos da total apatia diante de toda e qualquer atividade que lhes são propostas. 
Oxalá!!! 


segunda-feira, 17 de março de 2014

Façamos juntos o "mea culpa"

Há algum tempo venho analisando de maneira imparcial o nosso sindicato, o SINTEPE, e, apesar de saber que algumas pessoas não estão preparadas para receber críticas, decidi expor alguns dados para que possamos refletir juntos sobre a falta de união da classe docente pernambucana (que gera mais crise na Educação de Pernambuco), pois é bastante comum vermos os professores sindicalistas e sindicalizados criticarem os colegas professores, colocando nestes toda a culpa pela desunião da nossa classe.
Como professora há mais de 20 anos nesta rede, passei por três governos estaduais, e, pelo que me lembre, em tempos de greve e/ou paralisações a posição do SINTEPE diante dos governos anteriores a este, era bem mais firme. Quando este último governador assumiu, o SINTEPE modificou a sua postura, chegando a "parecer imparcial" em determinadas situações, quando deveria estar do lado da classe que o constituiu para lhe defender: os professores. Estas "omissões" por parte do SINTEPE, ficaram bem aparentes em tempos de greves e paralisações: quando os professores tiveram dias de greve descontados sem o direito de fazer a reposição das aulas não dadas; quando a polícia foi chamada para perseguir e prender professores durante greves e paralisações; quando nada fez contra todas as injustiças e perseguições impostas aos professores; quando pouco ou nada fez para evitar que o SASSEPE chegasse ao ponto que chegou e para evitar que o Governo fizesse tantos contratos temporários, quando poderia fazer concursos públicos para preencher as vagas existentes nas escolas,   entre outras coisas. 
Apenas depois que houve o rompimento entre o atual Governo de Pernambuco e o Governo Federal,  mais precisamente entre dois partidos políticos é que o SINTEPE começou a se posicionar contra os desmandes do atual Governo Estadual. Porém o SINTEPE já estava desacreditado diante de toda a classe de professores estaduais e talvez seja por isso que os nossos colegas professores se transformaram no que são hoje, profissionais amedrontados, adoentados e mal pagos.
Por isso, faz-se necessário termos um sindicato que fique à parte da política partidária, que fique apenas a favor da nossa categoria, lutando pelas melhorias que necessita a Educação no estado de Pernambuco. 
Chega de envolvimento político-partidário do SINTEPE! 
Não é hora de ficar servindo de trampolim para partidos e seus políticos! 
É hora de lutar de fato, agindo sem manipulação, nem politicagens, sem ficar livrando a cara de ninguém, nem fazendo apologias a quem quer que seja! 
O que de fato o SINTEPE fez em relação aos descontos dos 3 dias de parada e de proibição de reposição do ano passado? É bom refletirmos sobre isto também!
Pois se eu continuo participando das greves e paralisações é porque os descontos que sofrerei em meu pagamento, não me farão passar mais privações do que já passo, entretanto sei de colegas cujos salários são a única fonte de renda para sustentar a sua família. E, se já temos o "prazer" de recebermos o pior salário pago a um professor estadual no país, imagine então se este vier com descontos?
Participo e continuarei participando de todas as paralisações e greves que venham a acontecer, mas já com a certeza terrível de que pouco ou quase nada se conseguirá com isto, pois as mudanças teriam que ser bem mais profundas, os discursos teriam que ser repensados, as críticas teriam que ser bem mais fundamentadas.
Afinal fazemos parte da ELITE CULTURAL deste estado e temos em nossas mãos o poder de modificar o mundo: lidamos com jovens e crianças cotidianamente e, se aos governantes somente a política partidária eleitoreira interessa, melhor que tenham mais respeito por nós, pois estamos diariamente com os seus futuros eleitores!
E se temos este poder em nossas mãos, é bom que reflitamos sobre que exemplos de cidadania estaremos dando aos nossos alunos se sequer conseguimos nos impor diante da sociedade para que esta nos perceba como "CLASSE NECESSÁRIA" para a construção da cidadania?
E se fazemos parte de um sindicato, por que também não exigir dele uma postura mais atuante para que a confiança nele seja restaurada em todos os nossos colegas professores que estão preferindo a omissão ao invés da luta?
Se o momento é de promover união para gerar força, esqueçamos o maldito "a culpa é de" e façamos juntos o "mea culpa".

sábado, 1 de março de 2014

Os filhos são criados para o mundo

Quando se está acostumada a uma rotina puxada de obrigações e horários sempre corridos, poder ficar quatro dias dedicando-se exclusivamente ao ócio, me fez ficar meio "atarantada". Resultado: no primeiro dia decidi organizar cômodas, armários e mesinhas do quarto de meus filhos e, quando dei por mim, havia acabado o meu primeiro dia de folga, sem que eu tivesse lido nada, assistido nada, visto nada na internet, nem ido na casa de ninguém. E, apesar de tudo, foi bom, pois consegui colocar em ordem meus pensamentos e "arrumar" também algumas questões em minha mente.
Agora, cansada devido ao "levanta-abaixa" pra arrumar as coisas e ao sobe e desce escada pra trazer e levar coisas, sinto-me preparada para deixar fluir meus pensamentos e expor sentimentos que estão a algum tempo a rondar a minha mente. E não sei se posso dizer que me sinto pronta para a mudança que está por vir em minha vida, mas da mesma forma que todas as gavetas e vãos dos móveis que arrumei durante todo este dia estão em ordem, assim também está a minha mente. E já não me dói tanto imaginar que meu filho, de dezessete anos, estará indo para mais uma nova etapa da sua vida, saindo de "debaixo das minhas asas", para criar suas próprias asas e ensaiar seus "voos solos".
E tento encarar de uma forma mais leve esta nova fase em minha vida: a da mãe moderna, cujo filho universitário irá morar em outro estado, com outras pessoas, em busca da sua profissionalização e do seu crescimento acadêmico, afinal, Maceió é "bem ali", e, tal qual Pollyanna, busquei nesta situação todas as possibilidades para "brincar do contente".
Há um paradoxo engraçado em ser mãe, queremos que nossos filhos cresçam e conquistem sua independência, mas sofremos quando isto começa a acontecer; sonhamos com eles sendo universitários, com suas formaturas, suas famílias, mas sofremos por medo de perdê-los com a distância e, bem lá no fundo, gostaríamos que eles jamais saíssem de perto da gente, que eles sempre estivessem a depender de nós, para que nos sentíssemos "necessárias" de novo, tanto quanto éramos durante o período de lactação deles. E isto é "matéria para uma longa e profunda reflexão" em busca do auto conhecimento e da aceitação daquilo que é natural na vida: os filhos são criados para o mundo.
Portanto, melhor será não deixar que pensamentos de medo e de tristeza tomem forma novamente em minha mente, senão terei que passar meus três dias de folga que me restam ainda, arrumando e organizando todos os meus armários, cômodas, mesas, estantes e ainda ir prestar este serviço para vizinhos e familiares. Melhor aproveitar para curtir estes dias de ócio paparicando o meu filhote universitário para que ele sinta saudade quando se for, para sentir sempre vontade de voltar para o meu ninho. 
Que "o céu seja o seu limite" em todos os seus voos solos, meu primogênito.