domingo, 7 de setembro de 2014

A INVENÇÃO DOS AVÓS, de Helder Herik,

Desde quando me entendo por gente, que meus avós maternos fazem parte da minha vida, convivíamos com frequência, o que me fez descobrir uma afinidade muito grande com a minha avó materna, o que me levou, em certa época da minha infância, a "cair na besteira" de confessar à minha mãe que o meu amor por vovó era maior que o meu amor por ela. Resultado? Minha mãe chorosa por dias a fio, tentando me fazer sentir remorso por ela não ser o centro do meu amor naquele momento da minha vida. Levou tempo até que eu a convencesse que o meu amor era igual, apesar da minha afinidade ser maior com a minha avó, que sempre conseguiu me entender melhor que a minha mãe. Coisas de avó mesmo.
Cresci. E entendi que amor é algo que quanto mais doamos, mais ele aumenta em nosso peito e, pieguices à parte, continuei amando muito a minha avó, cuja cumplicidade existente entre nós, fez com que ela me revelasse segredos hiper, mega secretos da minha família e dos meus antepassados.
Dá pra perceber que os meus avós são importantes na minha vida e, se teimo em usar o verbo no presente, é porque acredito que os meus avós apenas "mudaram de plano", mas não deixaram de viver em meu coração.
Por isso, ao ler o livro A INVENÇÃO DOS AVÓS, de Helder Herik, fiz também uma viagem ao tempo em que convivi com os meus avós, Sebastiana Tenório, Manoel Francisco e Quitéria Luíza. De vô Clemente não guardo lembranças, ele se foi antes que eu me "desse por gente", ainda era um bebê. Mas sei boas histórias que um dia, juntamente com todas as demais, pretendo eternizá-las.
Trata-se de um livro dividido em partes: na primeira, repleta de aforismos, cujas diversidades de temas, ora nos faz rir, ora nos faz pensar e cada um nos propicia matéria para reflexão e auto-reflexão. Já na segunda parte, intitulada de Nem Conto, o autor nos presenteia com diversos contos e micro contos, nos quais nos deparamos com histórias interessantes, títulos sugestivos e uma maneira diferente de narrar histórias que lhe passam pela alma e que ele, de forma tão leve e sutil, nos faz chegar até a nossa alma. Dentre estes contos, ressalto Os Manequins, numa narrativa mais detalhada e, por isso mesmo, a história de maior extensão, o qual, arrisco a dizer, é um conto que metaforiza a vida e a forma como as pessoas passam por ela, vivendo numa globalização, na qual a mídia exerce fascínio e poder, modificando mentes, pensamentos e acentuando a "insensibilização" de uma boa parte das pessoas.
Surpreendente também é a parte Método prático da dislexia aplicada ao poema, no qual Helder traduz em versos, a sua visão do mundo, das coisas e das pessoas pelo prisma da dislexia, que, presumo, faça parte da vida dele. 
E, por fim, em A Invenção dos Avós, parte que finaliza este livro, temos contato com o universo sagrado de um neto e da sua convivência com os avós. São poemas que narram situações inusitadas e divertidas, falas, "acontecências", saudades e momentos que saltam de suas lembranças e se eternizam nas páginas desta obra, cuja linguagem poética nos remete às nossas próprias vivências e lembranças. 
Um livro que pode ser lido de uma única vez e relido lentamente, num suave deguste para apurar a percepção daquilo a que se propôs o autor.