domingo, 1 de janeiro de 2012

Primeiro dia do ano

Desde criança habituei-me a ouvir a minha mãe falar que tudo aquilo que se fizesse e fosse vivido no primeiro dia do ano novo, seria feito e vivido durante todo o ano. Tornou-se uma certeza em minha vida. Por medo de ter um ano paradão, eu fazia tantas coisas no primeiro dia, menos dormir: ia pra serra tomar banho de cachoeira depois de ter varado a noite na festa de rua, porque acreditava que aquela água lavaria todo o mal vivido no ano anterior; visitava amigos; lia livros bons; via TV; andava na minha bike; ligava pra os amigos; escrevia cartas; ouvia música; comia coisas gostosas. 
Evitava tudo que fosse negativo; nada de brigas, discussões, tristezas, nem lembranças tristes. Nada que não fosse "altamente alto astral". 
Por conta de toda esse zelo, o primeiro dia do ano pra mim sempre era muito bom. Era o momento de exercitar meu lado mais sereno, de praticar o perdão, de ser mais compreensiva e também tinha o lado mais fútil: uma roupa nova branca, uma rasteirinha confortável, uma cervejinha, vinhos, queijos, beijos na boca e se eu não tivesse uma festa pra ir e dançar muito, eu arrumava um jeito de dançar em meu quarto.
Com o passar dos anos, algumas coisas fui deixando de fazer, porém a ideia de tentar ser muito feliz no Dia Mundial da Paz não deixou de existir em mim.
E apesar de não ser mais uma adolescente, ainda sinto-me na mesma expectativa em relação ao primeiro dia do ano, entretanto, agora já me permito certas coisas que antes eu não admitia: chorar, porque aprendi a duras penas que o choro também faz parte da nossa vida; dormir, porque é o momento de sonhar; relembrar tudo o que passou, as coisas boas e também as ruins, porque só assim nos fortalecemos para enfrentar com mais segurança o ano que se inicia.
Nem sempre posso dançar, e já não vejo graça em ficar dançando sozinha, talvez seja por isso que me sinto triste às vezes.
Há muito que deixei de ir na casa de todos os amigos, procuro ficar em companhia da minha família; cartas não escrevo mais, há os faces, MSN, SMS, e-mails da vida; telefono apenas para poucas pessoas da minha família; e nunca mais fui a uma cachoeira. Sinto falta das sensações que essas pequenas coisas provocavam em mim. Sinto falta da felicidade e da esperança que sentia a cada virada de ano. Sinto falta da minha adolescência e juventude. Ser adulto é muito difícil: tem-se que ser séria e responsável o tempo todo e deixa-se de acreditar em pequenas coisas que nos davam prazer.
Contudo, ainda hoje ouvi a minha mãe me lembrando que tudo o que estamos fazendo hoje, faremos o ano inteiro. Ao menos isso não mudou. E como é bom ter a minha mãe por perto.